quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A História e suas "divisões"

A História, como ciência constituída, abrange uma quantidade ENORME de assuntos referente a história da humanidade (afinal, história é História desde que se entendeu a disciplina como uma ciência de discusso a respeito do passado). Entretanto, desde muito tempo, procura-se dividir a História, de modo a que se diferencie e trabalhe melhor o objeto de estudo. O típico "dividir e conquistar", aqui melhor aplicado na forma de "dividir e estudar".

Essas "divisões" da História (coloco entre áspas pois acredito que tudo é História, e considero essas divisões apenas para fins metodológicos de pesquisa) são o que nós, historiadores, chamamos de "abordagens históricas". Há outras formas da qual costumam classificar essas divisões: recortes temáticos, correntes historiográficas, concepções históricas, entre outros termos. Entretanto, chamarei de abordagem histórica, uma vez que não se trata nada mais que de uma abordagem específica, com temas, interpretações e metodologias específicas também, sobre um determinado tema amplo.

Abaixo, listo algumas dessas abordagens históricas:
  • História Social: O conceito de "História Social" surge primeiramente com o termo "História econômica e social", na primeira geração da chamada "Escola dos Annales" (para saber mais, link com uma resenha bem explicativa do livro de Peter Burke). Nesta abordagem, busca se retratar o homem no meio social, suas ações e as consequências da mesma na estrutura social. Busca formular problemas históricos específicos quanto ao comportamento e as relações entre os diversos grupos sociais;
  • História Econômica: Não se deve confundir "história econômica" com "história da economia". A História Econômica trata de problematizar questões como as formas de organização social a partir da produção, bens e prestação de serviços. Além do mais, cabe ainda à essa abordagem toda uma gama de idéias a serem pensadas sobre aspectos econômicos e seus reflexos na História, bem tal como as relações entre grupos sociais e economia;
  • História Cultural: É uma abordagem histórica que visa implementar algumas técnicas e conhecimentos antropológicos a História, visando entender as questões culturais sobre os olhares atentos dos historiadores. Sua grande tarefa é problematizar a Cultura, não só no seu aspecto tradicional, mas como um elemento histórico das sociedades, seja ela em que tempo for. Atualmente, um movimento (ao qual admito não estar a par) está surgindo, liderado pelo grande historiador Peter Burke, ao qual se entitula "Nova História Cultural" (a quem quiser saber mais, recomendo a leitura de "O que é História Cultural", de Peter Burke (link);
  • História das Mentalidades: Essa é uma das minhas favoritas. A História das Mentalidades vai buscar entender o processo histórico atrás do pensamento dos homens e quais frutos podem vir desses pensamentos. Um grande exemplo desse fenômeno, e solo fértil para estudo da História das Mentalidades, é o Nazismo, como fenômeno social, ao qual o ideário de uma raça superior e um reinado próspero para o povo alemão fascinaram o povo. Essa abordagem faz uma análise de tipo mais profundo da História pois visa perscrutar e compreender as grandes alterações nas formas de pensar e agir do homem ao longo dos tempos;
  • História Política: Essa abordagem, interessantíssima também, trata da História através das instituições, estruturas e ações políticas. No mais, o título fala por si só;
  • História Militar: Uma de minhas favoritas também. Não, não trata da ditadura (risos). Trata de abordar a História através de um dos eventos mais comuns (e inevitáveis) da história humana: a Guerra (por isso também é conhecida como História da Guerra). Trata não só da guerra em si, que por si só já é fantástica, mas de suas origens e consequências, passando pelo estudo do teatro de operações, armamento, etc. E pra quem tem o pé atrás como essa modalidade de abordagem, vale lembrar a frase do filme "O Senhor das Armas": "As armas mudam os governos mais rápido do que os votos";
  • História da Arte: Alguns não se referem a ela como abordagem, uma vez que o seu objeto de estudo, a Arte, não se refere especificamente a uma concepção da História humana, e sim um objeto da mesma. Entretanto, eu a incluo aqui por considerar a Arte uma expressão não só do íntimo do artista, mas da realidade que a cerca (como se estudar a História da Arte no período da Ditadura sem entender o contexto de censura da época?);
  • Micro-História: Essa abordagem tá aqui só porque eu aprendi na faculdade (rsrs), pois sinceramente não me aprofundei nela. A Micro-História se interessa pela especificidade dos fenômenos sociais a partir de uma perspectiva que tem sido comparada a uma lupa de aumento;
É importante deixar claro que é "abordagem" justamente por ser uma forma de interpretar e estudar a "Grande História". Portanto, "História da Igreja", "História do Direito", "História da Educação", "História do meu bairro", etc., são estudos com objetos específicos e não abordagens históricas.

Há diversas outras abordagens, mas o post já ficou grande o suficiente.. risos. Além do mais, a quem se interessar, pesquise. Mande-me um e-mail, eu dou umas dicas e caiam dentro. Coloquei aqui o suficiente pra esclarecer e despertar a curiosidade de vocês.

Grande abraço à todos.
E feliz Ano Novo!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Como produzir História?

A História está sempre sendo produzida. A cada minuto, a cada segundo. Como? Bem simples: toda vez que alguém conta uma história, seja para o jornaleiro, seja para o motorista de ônibus, para o chefe ao chegar atrasado, ou mesmo a repórter da Globo que conta a notícia de manhã, está produzindo História.

A História é um construto, um discurso construído a respeito do passado. Portanto, se eu digo ao meu chefe que me atrasei porque o ônibus enguiçou, pode ser verdade ou não, mas eu estou construindo um discurso a partir do que aconteceu. O ônibus pode não ter enguiçado, mas parado alguns instantes, ou então ficou preso no engarrafamento, mas a minha versão dos fatos, o meu discurso, é de que o ônibus atrasou porque enguiçou. Ou seja: eu construí um discurso histórico a partir do que aconteceu.

Entretanto, ao contrário da história do ônibus, para comprovar o meu discurso, uma vez que História é uma ciência (e portanto, utiliza do método científico de observação, análise, hipóteses, experimentação e comprovação), o historiador (o construtor de discursos a respeito do passado) utilizará de documentos que atestem seu discurso. Entretanto, o historiador não só traduz o documento e o impõe como certo, mas também o interpreta e o analisa meticulosamente (avaliando sua origem, quem escreveu, de quando é, quem atestou o documento, para que ele foi escrito, como foi escrito, etc).

De modo muito resumido, é assim que se produz História. A partir de suas pesquisas, os historiadores constroem seus discursos e o põe a prova, a fim de esclarecer questões do passado, para melhor compreender o presente.

Neste blog, eu pretendo escrever regularmente sobre História e, especialmente, escrever sobre as etapas da construção e produção da História. Durante minhas próprias pesquisas, escreverei aqui um relatório avaliando e descrevendo como foi a etapa realizada, a fim de melhor esclarecer todos aqueles leitores interessados. Fiquem tranquilos pois, ainda que escreva mais formalmente, não chegarei ao extremo de achar que isso aqui é um espaço acadêmico. Pelo contrário: quero fazer desse blog um espaço de Divulgação da História.

Grande abraço a todos,
Eduardo Costa